MÚSICA

As Conexões Temporais entre o OMD e o Retrô

Se, nos anos 80, o OMD já traduzia angústias humanas por meio de máquinas, hoje é natural que muitos artistas Retrowave enxerguem neles uma espécie de antepassado espiritual. A vertente sonora que a dupla britânica consolidou consistia de sintetizadores melódicos, batidas eletrônicas contidas, vocoders emotivos, baixo fundante.

Hoje, essa estética vive uma nova encarnação entre os produtores da cena Synthwave. Só que, em vez de apenas imitarem os timbres dos anos 80, os novos artistas ampliam a paleta com técnicas contemporâneas e toques cinematográficos.

Bandas e projetos como FM-84, The Midnight, Mitch Murder, Timecop1983 e Waveshaper trabalham com sintetizadores que evocam o lirismo de faixas como “Souvenir” ou “Secret”, do OMD. São músicas que não apenas soam “oitentistas” — elas nos sensibilizam com a frieza típica de um sintetizador bem aplicado. Exatamente como fazia Andy McCluskey quando entoava o refrão dolorido de “Enola Gay”. Pois o romantismo do OMD nunca foi açucarado — era tenso, torto, às vezes mecanicamente triste. E isso reverbera nos agentes artísticos do Retrowave de forma quase inconsciente.

Em termos técnicos, a ligação também é palpável, como teremos ocasião de ler nos tópicos a seguir.

  • O uso de sintetizadores analógicos, como o Roland Juno-60 e o Korg MS-20, ainda é central em ambos os mundos.
  • A estrutura de melodias lineares e camadas texturizadas, como nas composições do OMD, ecoa em muitos instrumentais Retrowave.
  • E até o uso de amostras de vozes de rádio, ruídos sintéticos e collages de áudio — presentes no experimental Dazzle Ships — pode ser percebido em produções atuais mais ousadas do gênero, especialmente nas vertentes cyberpunk e darksynth.

A diferença está no tempo histórico. O OMD falava dentro da Guerra Fria, quando a ameaça era palpável. O Retrowave fala depois do fim do mundo — é como se fosse um melancólico eco pós-apocalíptico, uma saudade ansiosa de um futuro que nunca aconteceu.

O futurismo retrô que domina o gênero revive as esperanças quebradas da era atômica e as reembala com neon, VHS e glitch digital. Nesse sentido, artistas como Power Glove ou Perturbator parecem assumir a distopia que o OMD apenas pressentia.

Curiosamente, o OMD também antecipava visualmente muito do que viria a se tornar comum no universo Synthwave, senão vejamos:

  • Cenas industriais, estética brutalista, tipografias frias, vídeos minimalistas e urbanos.
  • A relação quase sagrada com a tecnologia — não como ferramenta, mas como entidade emocional, espiritual e política.

Então por exemplo, em videoclipes como o de “Pandora’s Box”, a banda já flertava com o expressionismo alemão e a linguagem de filmes como Metrópolis ou Alphaville, construindo narrativas fragmentadas, densas, muitas vezes melancólicas. Exatamente como faz hoje o artista visual por trás de capas de álbuns de Dead Astronauts, VHS Dreams ou Dana Jean Phoenix.

O que une OMD e Retrowave, no fim das contas, não é apenas o som, o visual ou os temas, mas uma sensibilidade partilhada. É a vontade de transformar o gelo das máquinas em calor emocional.

De dançar no meio da ruína com um sintetizador nos braços.

De usar a nostalgia não como fuga, mas como uma lente para repensar o presente. Ou então, para evitar, talvez, que o futuro repita os erros do passado.

Concluindo pode-se dizer que, com o OMD, tinha início os primeiros passos do que seria chamado de movimento cyberpunk, que tanto influenciaria a geração oitentista – e a nossa.

A banda inglesa está, neste momento, em um triunfante retorno aos palcos, numa grande turnê pela América de Norte. Fato que é sempre uma enorme alegria para todos nós, fãs da geração de artistas dos anos 80.

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