MÚSICA

Miami Nights 1984: Uma Trilha Onírica em Synthwave

Cruzando as estradas dos anos 80, brilhantes em neon: uma viagem nostálgica por lembranças inesquecíveis, num ciclo de vida e espiritualidade … com o Miami Nights 1984.

Memórias dançam entre passado e futuro … ecoando um tempo que nunca deixamos pra trás … Vamos nessa?

É noite … Volto no tempo, para uma época em que ainda podia sonhar, quando não tinha que se preocupar com as contas, porque o papai pagava tudo. 

Eu estou ali, no Fiat Prêmio 1989 do meu pai, rodando na cidade grande (não é um DMC DeLorean, mas faz com que eu viaje no tempo …). O antigo toca-fitas ainda funciona nos tons angelicais da harpa de Andreas Vollenweider, enquanto nós vamos seguindo a Lua. Mas poderia ser qualquer outra joia daquela era perdida –  Pet Shop Boys, Propaganda, ou então os pianos maravilhosos de Elton John ou Bruce Hornsby.

New Wave, synthpop, krautrock … não faltavam sintetizadores futuristas naquele tempo: afinal, essa era a época para viajar De Volta para o Futuro.

A chuva batendo no capô, escorrendo pelos vidros … E pensar que, então, eu ficava deprimido com os dias de garoa e as noites escuras! Hoje, perante o caos que se abateu sobre o nosso planeta, cada gota de chuva renova a lembrança da infância e das cores da cachoeira de “Orinoco Flow”, da Enya..

A harpa chega ao fim e cede a vez ao pop dançante da Debbie Gibson. Lembra de como você era apaixonado por ela? Pois é. (Igual à Paula Abdul, que prometeu ser a sua garota pra sempre 😹 … ) É, meu amigo, a menina sabia o que fazer com um piano! E, aqui entre nós, Debbie cantava bem, sim. Não acredite em quem disser o contrário. É preconceito idiota contra o pop. Afinal, quem gosta de The Eighties curte pop, também.

An image of a metropole in the night, with neons signals, ad city lights fog, etc.

Bom, a viagem na estrada termina e então nós entramos na cidade grande. Eu adoro a metrópole à noite, com suas luzes, seus neons e pisca-piscas, os seus prédios altos, seus inúmeros semáforos na neblina, bem como a sua movimentação incessante, que vai diminuindo aos poucos … Sem contar, né, aquelas criaturas misteriosas que vagam pelos becos, junto com a última turma de trabalhadores, que irão trocar de turno agora. 

Assim como um Roy Batty, do Blade Runner, eu também me esforço para não perder, como lágrimas na chuva, os reflexos e as imagens que meus olhos obcecados registram em transe

Ah … você já assistiu The Naked City? Aquele filme dos anos 50, chamado Cidade Nua por aqui. Afinal, se você ama a cidade – se você é synthpop ou synthwave -, então você ama a cidade e precisa assistir a essa obra-prima do diretor Jules Dassin sobre Nova York.

E então eu resolvo mudar tudo – tomar um atalho em algum buraco de minhoca e pular para outro lugar, completamente diferente: é a hora perfeita de rolar uma trilha synthwave, tal como “Accelerated”, do Miami Nights 84. Sim, flipar à outra ponta do Cosmos!  

Porque, na boa, o movimento synthwave não é original anos 80, não: só aspira a isso. Sim, o synthwave nos leva àquela década, mas é um outro “tipo” de anos 80 – um que não ficou lá atrás. É diferente a sensação, eu não sei explicar, mas “dentro dela” você viaja no mundo: aqueles teclados te deslocam para o mistério … Outra vez, De Volta para o Futuro 2

E agora, em 2024, cá vivo eu na direção, com a trilha “perfeita ” para seguir na avenida. “Accelerated” gira a cidade à noite, comigo e mantém o meu fluxo de pensamentos girando.

Estou entretido ao volante, com o brilho dos sintetizadores de Michael Glover, o músico por trás do Miami Nights 1984. E o synthwave vai fluindo, com as minhas lembranças. Aquele som vintage, a estética dos anos 80, o instrumental saudoso feito nos dias de hoje, as linhas melódicas e oníricas …

Eu me mantenho acordado com o fabuloso solo que evoca uma guitarra voadora, limpo e cheio de feeling, atravessando a parede de teclados, bem audível e se impondo. Solo curto, articulado direto na música, único e eficiente. Com efeito, é impossível dormir ao volante, mesmo com a sensação de prazer. 

Chego, então, ao estacionamento: paro o carro, tiro o meu smartphone do bolso e curto o vídeo no Youtube. Uma criação de Florian Renner, designer gráfico conceituado, que domina a estética retrowave, combinando futurismo e nostalgia, inclusive com influências de filmes de ficção científica, como Tron e Blade Runner, vindo daí símbolos como a grade azul, as cores elétricas, a cidade noturna e os neons. 

A música de Miami Nights 1984 carrega um universo de memórias e sensações, convidando e conectando os ouvintes a uma era dourada em que a música sintetizada brilhava.

A tecnologia nos efeitos visuais e o sentimento da música do Miami Nights 1984 sinalizam um tempo que não existiu, mas que, para nós, amantes dos 80, é uma realidade.

Chegamos!

De Volta ao Futuro 3

Imagem: arte gerada com IA 

Fábio César é formado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Foi repórter da Revista Sacred Sound e integrou a editoria de cultura da Revista Eclésia.

2 comentários sobre “Miami Nights 1984: Uma Trilha Onírica em Synthwave

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