CINEMA

O Exterminador do Futuro: a Profecia de Reese

Em 1984, o clássico O Exterminador do Futuro apresentou um tempo em que máquinas, guiadas por Inteligência Artificial, dominam a humanidade. Quarenta anos depois, a realidade parece mais próxima desse cenário distópico.

O cineasta James Cameron não apenas nos aterrorizou com um vilão implacável, em um filme dos mais originais do cinema, mas também deixou uma previsão notável sobre o avanço tecnológico que vivemos hoje. Confira a seguir!

É tarde da noite. As largas avenidas da Los Angeles de 1984 estão marcadas, aqui e ali, pela presença de gente mais acostumada à claridade artificial que à luz do Sol. Ou então, os becos escuros, onde dormem mendigos enrolados em jornais. Uma entidade sobre-humana marcha por ali, com determinação …

Apoderando-se de qualquer meio de transporte disponível, a Aparição luta para realizar um objetivo sinistro. A ideia é matar toda e qualquer mulher que atenda pelo nome de Sarah Connors!

Depois de duas vítimas violentamente eliminadas pela estranha Manifestação, a terceira candidata – uma garçonete, que cria uma iguana em casa! – começa a se preocupar com a repercussão. Afinal, já fica a parecer que uma onda de assassinatos em série está se iniciando. 

O que Sarah não sabe é que ela tem um salvador! Um rapaz esforçado, com evidente treino militar, que atende pelo nome de Kyle Reese, e que veio do futuro para protegê-la.

Agora, ele enfrenta à bala o Exterminador do futuro – como passa a ser conhecida a “criatura” a partir daí – em um tiroteio numa boate chamada Tech Noir. Local cujo titulo em neon simboliza o colapso do mundo habitual de Sarah Connors e o surgimento de uma tecnologia que mudará o planeta para sempre.

Segue-se uma perseguição pelas ruas vazias de Los Angeles, num frenesi desesperado, que termina na garagem de um prédio, onde uns poucos carrões de época estão estacionados. O clima de abandono, que chega a ser opressivo, lembra as pinturas de Edward Hooper.

É ai, nesse ambiente de medo, que Reese explica à jovem o mistério do cyborgue – um artefato que, qual lobo em pele de cordeiro, guarda por baixo da sua frágil pele humana, uma estrutura metálica indestrutível.

A máquina mortífera veio igualmente do futuro, para destruir Sarah pelo que ela ainda iria fazer nesse mesmo futuro!

É claro que a moça não poderia compreender uma coisa medonha dessas. Em 1984, não havia como imaginar que um produto metade humano, metade robô – assassino, ainda por cima – pudesse se tornar realidade. Sobretudo vindo de um tempo que ainda não está presente.

Reese, então, faz uma declaração marcante, nesse filmaço de James Cameron. Quando a infeliz garçonete argumenta que algo assim é impossível, o jovem tenente explica a Sarah que, embora hoje pareça absurdo, esses organismos cibernéticos se tornarão reais. Talvez em uns 40 anos, ele chuta.

Pois bem. É ai que a coisa fica inquietante, pois estamos em fins de 2024. Quarenta anos depois, já vemos robôs humanoides, com chips de Inteligência Artificial embutidos, aprendendo a andar, mesmo conseguindo uma certa autonomia de movimentos. E desenvolvimentos ainda mais formidáveis vêm acontecendo nos circuitos militares, despertando preocupações com segurança. 

Imagine os mares do planeta patrulhados por drones submarinos autônomos, movidos a energia nuclear e guiados por IA. E se resolverem pôr SLBM neles (quer dizer, aqueles misseis estratégicos intercontinentais, carregados com ogivas atômicas)?

Ou seja, de lá pra cá, a evolução da tecnologia foi tornando tudo isso viável e … real.

No entanto, com a vantagem de vivermos no futuro, talvez o prognóstico de O Exterminador do Futuro (“Terminator”, 1994) hoje não nos pareça tão impressionante. Porém, considerando a época em que foi feito – e não apenas isso, mas ainda a própria figura de um cyborgue sendo montada e exibida numa tela de cinema! -, então não é só a fala, mas o filme todo que se torna instigante para o fã de ficção científica. E mesmo para a população em geral. 

Uma profecia moderna, com data para se realizar – ainda que sendo apenas uma possibilidade arriscada por Reese (porquanto se aceita que o futuro é somente um dentre muitos possíveis).

Sendo assim, temos aqui um vaticínio no sentido moderno do termo – se é que se pode atribuir um “sentido moderno” para um ato comumente associado aos videntes do passado. 

Note que entendemos a profecia como uma metonímia objetiva de todo o cenário que o filme constrói para o futuro. É algo mais, portanto, do que simplesmente localizar uma frase solta em um longa-metragem e lhe atribuir poderes adivinhatórios. É sobre algo que nasceu lá atrás de forma tímida e, em quatro décadas, veio se agigantando qual uma verdadeira máquina de guerra.

Claro que estamos longe do nível tecnológico avançado do personagem de Arnold Schwarzenegger, mas ainda assim a realidade não deixa de nos pôr uma pulga atrás da orelha …

Fábio César é formado em filosofia pela Universidade São Judas Tadeu e pós-graduado em Direção de Arte pela Faculdade Anhanguera.

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