Metrô: o Synthpop Brasileiro dos Anos 80
Entre o brilho das pistas de dança e os desafios de um Brasil em transformação, o Metrô não apenas embalou festas, mas também deixou reflexões que vale a pena serem retomadas hoje.
Por Fábio César, em collab com LuzIA
Os Novos Tempos
Ser jovem e descolado, nos anos 1980, significava gostar de Metrô. A banda de pop rock, recheada de sintetizadores, capturou como ninguém o espírito da época. Conduzida pela bela vocalista Virginie, o Metrô de fato se tornou um ícone do synthpop nacional, refletindo o espírito de uma geração que ansiava por liberdade e expressão.
Mesmo num Brasil em transição política, com desafios econômicos que se exacerbavam naqueles tempos, os 80s tinham uma vitalidade juvenil, uma alegria ingênua singular.
Emoções, inclusive, que eram expressas pela posse de equipamentos eletrônicos, tais como o walkman e o videocassete. Ou, ainda, pela dedicação às diversões eletrônicas, nos points de videojogos (os famosos fliperamas).
Com efeito, foi essa leveza que a banda Metrô soube captar, naqueles meados de década. A estratégia adotada? Incorporação plena de teclados ao estilo dançante.
Não resta dúvida de que as canções empolgam quem está atrás de uma música mais animada, mas há algo mais na produção do grupo. Um hit como “Tudo pode mudar (No Balanço das Horas)” não apenas levantou a galera adolescente, mas também trouxe reflexões delicadas sobre o tempo.
Ou então, “Beat acelerado”, que fomentou certo questionamento dos padrões restritos que a sociedade impunha às mulheres. Afinal, devemos nos lembrar que o Brasil ainda estava em fase de mudanças, com a democracia começando a se consolidar após uma Ditadura militar de vinte anos.
O Metrô: a Trilha Sonora Perfeita
Os fãs encontraram no Metrô, portanto, o acompanhamento ideal para as festas, os encontros nos shoppings e os dias de jeans estilizados e penteados coloridos.
Hoje, a banda soa única, especialmente se considerarmos os tempos pouco românticos em que vivemos, encurralados numa brutal destruição planetária. Quanto aos hits, até parece que foram substituídos pelo culto aos gadgets, em vez de ao conteúdo musical propriamente dito.
Além disso, parece que as músicas contemporâneas estão, de modo geral, mais voltadas para o questionamento dos padrões sociais do que para festejar o momento.
O fato é que o Metrô surfou bem a onda do synthpop internacional. Era um estilo que privilegiava os teclados em suas melodias e arranjos, em vez das guitarras, mais ligadas ao hard rock e ao metal.
A New Wave
O synthpop começou a dar as caras no começo do decênio, aproveitando-se do declínio do rock progressivo.
Também a Discoteca e o movimento punk decaíram lá pelos fins dos anos 70, o que acabou, então, sendo benéfico para a ascensão da New Wave. Esse era um movimento cultural que abarcava moda, dança, atitude e, claro, música. Assim, a New Wave trouxe ao mundo grupos como The Human League, Visage, Soft Cell e New Order, este último renascido das cinzas do Joy Division.
Musicalmente, a New Wave e o synthpop abraçaram os sintetizadores e drum-machines como ferramentas tecnológicas para a criação de um som moderno e futurista. Com isso, afastaram-se das guitarras pesadas e das estruturas tradicionais do rock, repensando-o em termos de formas mais democráticas de comunicação. Isto é, a música se transformou em um meio de rever a cultura e o mundo.
Mais do que um estilo sonoro, esses movimentos representaram uma ruptura com o peso cultural das décadas anteriores, especialmente com as angústias e revoltas do punk e o experimentalismo mais denso do rock progressivo.
Em vez disso, os jovens celebravam a leveza e a modernidade! Para muitos deles, o synthpop oferecia a trilha sonora perfeita para explorar novas formas de expressão e celebrar a vida urbana, em um mundo que parecia cada vez mais conectado e eletrificado.
Um bom exemplo que poderíamos citar dessa renovação estética é a canção de Gary Numan, “The Cars”, que se tornou um verdadeiro hino techno-cyber! Essa era uma amostra, portanto, do que se queria alcançar com a música, em termos de espelhar a nova realidade tecnológica das massas populares.
A Influência no Brasil
No Brasil, esse espírito de renovação encontrou eco na geração que crescia em meio à transição política e ao desejo de deixar para trás os anos de repressão. O Metrô, ao incorporar elementos do synthpop e da New Wave, tornou-se não apenas um reflexo dessa mudança cultural, mas também o modelo de uma juventude ansiosa por dançar, sonhar e expressar suas aspirações de um futuro mais colorido e livre.
Agitação, cores berrantes, cabelos exóticos, maquiagem para se fazer notar na festa: eis o padrão da New Wave Internacional, que transformou as ruas em verdadeiras passarelas futuristas!
Já no Brasil, o synthpop representou uma revolta juvenil contra as dolorosas décadas de conflitos passados. Substituindo o peso das lutas pela leveza da “curtição”, cada vez mais liberadas de amarras, as novas gerações buscaram, então, novas maneiras de ver o mundo. E é exatamente essa mentalidade vibrante que o Metrô traduziu tão bem, na voz inesquecível de Virginie.
Para nós, hoje, resta a nostalgia dos anos 80s e da música retrô brasileira em seus flertes com o synthpop.
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Em sua visão, prezado leitor, qual o lugar que cabe às bandas de pop-rock (ou de synthpop) dos anos 80 no conjunto da música brasileira? Deixe registrado nos comentários, ok?
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Foto: Gratiliano89, CC BY-SA 4.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>, via Wikimedia Commons
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Fábio César formou-se em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Foi repórter da Revista Sacred Sound e integrou a editoria de cultura da Revista Eclésia.
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