As Conexões Temporais entre o OMD e o Retrô
O Orchestral Manoeuvres In The Dark influenciou profundamente o Retrowave, criando muitas conexões emocionais e vinculações estéticas que atravessam décadas.
Da New Wave eletrônica dos anos 80 à cena Synthwave atual, descubra como essas afinidades ainda moldam a música e a cultura, oriundas de uma banda que nunca envelheceu.
Por Fábio César

OMD: Referência Emocional e Estética para o Retrowave
Se, nos anos 80, o Orchestral Manoeuvres In The Dark já traduzia angústias humanas por meio de máquinas, como dissemos no post anterior, hoje é natural que diversos artistas Retrowave enxerguem na banda inglesa uma espécie de antepassado espiritual. A vertente sonora que a dupla britânica consolidou consistia de sintetizadores melódicos, batidas eletrônicas contidas, vocoders emotivos, baixo fundante.
Hoje, essa estética vive uma nova encarnação entre os produtores da cena Synthwave. Só que, em vez de apenas imitarem os timbres dos anos 80, os novos artistas ampliam a paleta com técnicas contemporâneas e toques cinematográficos.
Bandas e projetos como FM-84, The Midnight, Mitch Murder, Timecop1983 e Waveshaper trabalham com sintetizadores que evocam o lirismo de faixas como “Souvenir” ou “Secret”, do OMD. São músicas que não apenas soam “oitentistas” — elas nos sensibilizam com a dureza típica de um sintetizador bem aplicado. Exatamente como fazia Andy McCluskey quando entoava o refrão dolorido de “Enola Gay”!
Pois o romantismo do OMD nunca foi açucarado — era tenso, torto, às vezes mecanicamente triste. E isso, então, reverbera nos agentes artísticos do Retrowave de forma quase inconsciente.
As Finas Conexões Sintéticas entre OMD e Synthwave
Em termos técnicos, a ligação também é palpável, conforme teremos ocasião de ler nos tópicos a seguir.
- O uso de sintetizadores analógicos, como o Korg M-500 Micro-Preset e o Korg MS-20, ainda é central em ambos os mundos.
- A estrutura de melodias lineares e camadas texturizadas, como nas composições do OMD, ecoa em muitos instrumentais Retrowave.
- E até o uso de amostras de vozes de rádio, ruídos sintéticos e collages de áudio — presentes no álbum experimental Dazzle Ships — pode ser percebido em produções atuais mais ousadas do gênero, especialmente nas vertentes cyberpunk e darksynth.
A diferença está no tempo histórico. O OMD falava dentro da Guerra Fria, quando a ameaça era palpável. O Retrowave fala depois do fim do mundo — é como se fosse um melancólico eco pós-apocalíptico, uma saudade ansiosa de um futuro que nunca aconteceu. Conexões virtuais, portanto.
É importante lembrar que o futurismo retrô que domina o gênero revive as esperanças quebradas da era atômica, reembalando-as todavia em neon, VHS e glitch digital. Nesse sentido, artistas como Power Glove ou Perturbator parecem assumir a distopia que o OMD apenas pressentia.
Curiosamente, o OMD também antecipava visualmente muito do que viria a se tornar comum no universo Synthwave. Se não, vejamos:
- Cenas industriais, estética brutalista, tipografias frias, vídeos minimalistas e urbanos.
- A relação quase sagrada com a tecnologia — não como ferramenta, mas como entidade emocional, espiritual e política.
Assim, em videoclipes como o de “Pandora’s Box”, por exemplo, a banda já flertava com o expressionismo alemão e a linguagem de filmes como Metrópolis ou Alphaville, construindo narrativas fragmentadas, densas, muitas vezes melancólicas. Exatamente como faz hoje o designer por trás de capas de álbuns de Dead Astronauts, VHS Dreams ou Dana Jean Phoenix, portanto.
Laços Íntimos
O que une OMD e Retrowave, no fim das contas, não é apenas o som, o visual ou os temas, mas uma sensibilidade partilhada em finas conexões intelectuais e espirituais.
É a vontade de transformar o gelo das máquinas em calor emocional.
De dançar no meio das ruínas, com um sintetizador nos braços.
De usar a nostalgia não como fuga, mas como uma lente para repensar o presente. Ou então, para evitar, talvez, que o futuro repita os erros do passado.
Finalizando a nossa incursão pela New Wave eletrônica dos 80, pode-se dizer que, com o OMD, tiveram início os primeiros passos do movimento que seria chamado de Cyberpunk, e que tanto influenciaria a geração oitentista – e a nossa.
A banda inglesa está, neste momento, em um triunfante retorno aos palcos, numa grande turnê pela América de Norte. Fato que é sempre uma enorme alegria para todos nós, fãs da brilhante galeria de artistas dos anos 80.
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Foto: Andy McCluskey (OMD) no Nokia Night of the Proms em Dezembro de 2006, no Festhalle, em Frankfurt am Main
Créditos: Urmelbeauftragter, CC BY-SA 3.0 DE, via Wikimedia Commons
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Fábio César formou-se em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Foi repórter da Revista Sacred Sound e integrou a editoria de cultura da Revista Eclésia.